Um pouco dos mais antigos Carnavais do Rio Novo

Um pouco dos mais antigos Carnavais do Rio Novo

legenda: Sinônimo da alegria e da descontração do povo brasileiro, o Carnaval integra a cultura avareense...

Fonte da Foto: Gesiel Jr

* Gesiel Júnior

Sinônimo da alegria e da descontração do povo brasileiro, o Carnaval integra a cultura avareense desde as primeiras décadas da formação da Vila do Rio Novo.

Colhemos alguns registros da festa no fim do século dezenove, conforme interessantes memórias de Jango Pires.

A folia dos “Zé-Pereira” - Fevereiro de 1896. Nosso mais antigo memorialista descreve assim os preparativos para os primeiros festejos de Carnaval em Avaré: “Oito dias antes começavam a sair todas as noites os Zé-Pereira” – nome como eram identificados os homens vestidos de branco, a maioria envolvidos em lençóis.

Segundo Jango, eles “saíam das dez horas da noite em diante acompanhados por moleques grandes e passeavam pelas ruas fazendo muita algazarra”.

Essa diversão carnavalesca de origem portuguesa teve influência carioca. O bloco, formado por rapazes, moças e crianças, desfilava pelas ruas e seus integrantes, disfarçados, representavam caricaturas de personagens religiosos, políticos e sociais de destaque da época.

“Havia quem os chamasse também de ‘encamisados’. Lembro-me que cantavam: ‘Viva o Zé-Pereira no dia da bebedeira. Viva o Zé-Pereira no dia da pagodeira’. Assim volteavam a cidade”, completa Jango.

Entre máscaras e flores - Dois anos depois, em 1898, José Ezequiel de Oliveira, descendente de portugueses, organizou o “Carnaval do Rato” numa alusão ao seu próprio apelido. Num carro de bois, ele armou um navio cheio de enfeites puxado por um bem animado grupo de foliões. Na frente, uma fada cantarolava modinhas, dentre elas, a típica “Um ranchinho beira ao chão”.

Nesse tempo havia ainda a costumeira troca de flores entre os folguedos característicos. Famílias disputavam a escolha de um mascarado para receber lindos ramalhetes.

 

“Tudo era bonito, distinto e elegante”, destaca Jango, recordando das brincadeiras feitas até de forma inocente. Homens trajados com disfarces passeavam pelas ruas do Rio Novo e mulheres solteiras ficavam nas janelas e nas calçadas à espera de ganhar flores. E Jango comenta: “Os mascarados comuns só diziam com voz de falsete: - Vamos trocar flores?”

Havia, entretanto, outros que exibiam fantasias caras, feitas de seda e veludo, como os de príncipes e de fidalgos. E aqueles que adornavam seus cavalos com fitas, peitorais e pulseiras de guizos. “Dava para ouvir um tinido agradável num ar festivo”, diz o cronista.

Integravam esse grupo de “foliões chiques” políticos, músicos e comerciantes como Paulino Pinheiro Machado, Elisiário Cruz, Tenco Pires, Lázaro Augusto do Amaral Leite (prefeito de Avaré em 1920) e o negro João André da Costa.

“O Carnaval desse tempo foi lembrado e relembrado com saudades”, atesta Jango.

 “Em 1902, estava na moda no Carnaval de Avaré o confete, a serpentina e as bisnagas de dois tipos: relógio e revólver, ambas usadas com água perfumada” (Jango Pires).

Entre laranjinhas e críticas - A virada para o século vinte traz para Avaré a graça do Carnaval com a moda da brincadeira de laranjinhas confeccionadas de borracha.

Mas na paisagem urbana fantasias diversas e multicoloridas tecem críticas espirituosas aos fazendeiros de café e de cana.

Waldomiro Setúbal, José Franco do Amaral, Juquinha Toledo, Felício Barra, Chenco Pires, Donato Brandi, Severiano Crispim, Armando Carvalho e os irmãos Maffei assumiram animadamente as brincadeiras no Carnaval de 1902.

“Procurando dar a personalidade de cada um, os foliões criticavam os fazendeiros (imitavam-nos com linguagem elevada). Muitos, aliás, passavam por grande dificuldade financeira”, relata Jango

Pires, acrescentando que a folia terminou com gente fantasiada tipicamente de pretos e de pretas.

Interpretando marchinhas, os foliões visitavam as famílias e, por fim, a jornada era encerrada com uma roda de samba na sala da casa do então major Edmundo Trench, que entre os anos de 1905 e 1911 governou Avaré, sendo o seu último intendente e o seu primeiro prefeito.

Para o memorialista, a partir de então o Carnaval decaiu na cidade, perdendo sua originalidade e muito da alegria marcante dos primeiros anos do povoado.

Do livro “Avaré em memória viva”, vol. I, de Gesiel Júnior, Editora Gril, 2010

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