15 de setembro: data simboliza a fundação de Avaré

15 de setembro: data simboliza a fundação de Avaré

legenda: Feriado coincide com a festa litúrgica da padroeira da cidade

Fonte da Foto: Arquivo pessoal

* Gesiel Júnior

Avaré, de fato, não foi fundada em 15 de setembro de 1861. Entretanto, essa data – de maneira simbólica – está definida legalmente como o dia da fundação, mas mais para firmar a tradição religiosa e, sobretudo, para indicar a origem histórica do povoado que se formou sob a égide da fé católica.

Impossível saber com exatidão a data em que realmente a cidade foi fundada. “Nem dia, nem mês, tudo é ignorado”, lembrou a cronista Anita Ferreira De Maria. De concreto, o que se sabe é que sertanistas vindos da Serra da Mantiqueira e do Sul de Minas Gerais, atraídos pelas terras agricultáveis do Vale do Paranapanema, aqui se afazendaram em meados do século dezenove.

Pelos apontamentos de Jango Pires, o nosso primeiro memorialista, em 1864 é que “foi construída a então Capela do Major, de pau a pique, barrotes e barreada, coberta de telha vã, no local onde hoje está a entrada principal ou porta da frente da Matriz”.

“Foi teu marco uma humilde capela”. A propósito, esse verso poético do Hino de Avaré, pensado por Djalma Noronha, faz alusão à religiosidade dos fundadores, os quais ergueram uma pequena igreja votiva em louvor a Nossa Senhora das Dores, típico orago de mineiros.

Data oficializada – Em meados dos anos 1950, reunidos, intelectuais e estudiosos da história avareense debateram a fixação de uma data comemorativa para marcar as origens de Avaré.

Houve consenso inicial em torno do dia 15 de maio de 1862, quando foram lavradas, no Cartório de Botucatu, as escrituras da doação de 27 hectares para o patrimônio do Rio Novo, gesto do major Vitoriano de Souza Rocha, que teve cunho fundacional.

“Havíamos escolhido o dia 15 de maio, pois as escrituras são documentos irrefutáveis. Todavia, optou-se pelo 15 de setembro, dia em que a Igreja celebra as Dores de Nossa Senhora”, relatou Anita Ferreira De Maria.

Com efeito, em 6 de setembro de 1956, após passar pelo crivo político da Câmara de Vereadores, o prefeito Paulo Araújo Novaes sancionou a Lei nº 52 que oficializou “por tradição histórica e religiosa” o dia 15 de setembro de 1861, como a data oficial do município por ser o da festa de sua padroeira, Nossa Senhora das Dores.

Desde então comemorações passaram a ocorrer e, em setembro de 1956, no Centro Avareense, houve a I Semana de Arte, mostra organizada por Nelson Maenaka, Guido Dias de Almeida, Heitor Contrucci, José Ismael e José Pires Carvalho. Dela tomaram parte os artistas plásticos Augusto Esteves e Luiz Morrone.

Aconteceram nessa época também eventos religiosos, literários, esportivos e musicais. Além da tradicional procissão de andores, houve conferências do jornalista Israel Dias Novaes e do professor Francisco Rodrigues dos Santos, demonstração de ginástica artística pelos alunos do professor Nelson Pala e um concerto da soprano avareense Mariinha Magalhães.

CONTEXTO EM QUE SURGIU UMA CIDADE

No começo do século dezenove, o Vale do Paranapanema, ainda uma inóspita região, passou a ser visto como um dos caminhos em direção ao Paraguai, ficando conhecido como estrada do Peabiru, principal rota leste-oeste na penetração do continente.

O caminho do Peabiru, aliás, serviu de estímulo para se adentrar na região, a fim de se estabelecerem núcleos de povoamento. O ponto de partida das bandeiras era quase sempre Sorocaba, a mais avançada das cidades, base para impulso às penetrações e às minas do Mato Grosso.

Conhecida como “boca do sertão”, a região de Avaré atraiu aventureiros, viajantes e caçadores de índios, os quais paulatinamente vasculharam as terras habitadas por índios das tribos dos Caiuás e dos Botucudos.

Há diversos conflitos com os nativos e a ambição por minerais de valor não se confirma. A maior riqueza é a fertilidade da terra, garantida pela irrigação do Vale do Paranapanema.
Nessa época, posseiros liderados por José Theodoro de Souza e Tito Corrêa de Mello abrem o mato com os seus facões e pisam no solo do que seria a futura Avaré.
Conquistam as terras exterminando os índios e buscam atrair moradores para essas terras férteis.

Foi Tito, provavelmente, quem chamou parentes para tomar posse dessas paragens. Entre eles, o major Vitoriano de Souza Rocha e o alferes José Domiciano de Santana. Atraídos pela perspectiva de obter amplas colheitas com terras produtivas e água em abundância, ambos vieram com suas tropas para escrever os primeiros capítulos da história avareense.

* Cronista e pesquisador, Gesiel Júnior, 55, é autor de 38 livros sobre a história de Avaré e região.

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