Morte de Nilva Calixto entristece a classe artística de todo Brasil

Morte de Nilva Calixto entristece a classe artística de todo Brasil

legenda: A artista foi sepultada na tarde desta sexta-feira no Cemitério Municipal de Águas de Santa Bárbara

Fonte da Foto: Arquivo Pessoal

Aos 79 anos, morreu nesta sexta-feira, 10, em Águas de Santa Bárbara, onde residia, a artista plástica e restauradora avareense Nilva Leda Calixto. Grande nome do restauro de obras de arte no Brasil, ela recuperou o Teatro Municipal de São Paulo, o Mosteiro de São Bento, as igrejas históricas de Itu e, em Avaré, partes do Santuário Nossa Senhora das Dores.

No monastério paulistano, onde, antes de Nilva Calixto, não havia notícia de presença feminina na clausura, seu trabalho mais delicado entre mais de 50 restauros foi trazer novamente à vista as figuras dos arcanjos Miguel e Rafael pintadas na capela abacial pelo monge holandês Adelbert Gresnicht.

Esta notável avareense se tornou então a primeira mulher a entrar no claustro dos beneditinos desde a fundação da casa em 1598. Entrou para lá recuperar o templo restrito do abade, onde há uma magistral amostra paulistana do estilo ensinado pela tradicional escola alemã de Arte Beuron, cuja técnica Nilva seguiu na pintura de oito telas para a igreja matriz de Águas de Santa Bárbara.

Em 2007, na segunda fase de convivência com os monges, a restauradora lá ocupou uma cela e participava dos ritos monásticos, enquanto produziu painéis para decorar os aposentos usados por Bento XVI, o atual papa emérito, quando ele se hospedou no mosteiro, em sua visita ao Brasil.

Ao empregar a técnica da prospecção, Nilva revelou a originalidade de antigas decorações, como as da capela de Sant’Ana, no Mosteiro de São Bento, de Sorocaba, igreja erguida há mais de 350 anos.

Artista plástica versátil

Além de restauradora, Nilva pintava, desenhava, ilustrava e escrevia poesias. Nascida em 15 de janeiro de 1943, ela teve genitores de ascendência árabe e italiana (Bechara Calixto e Ida Fabbri).

Depois dos primeiros estudos na terra natal, fez curso de recuperação de obras artísticas em Florença e em Nova York. Estagiou, convidada pelo diretor Pietro Maria Bardi, no estúdio de restauro do Museu de Arte de São Paulo (MASP), entre 1972 e 1974, quando se encarregou do resgate de pinturas de mestres como Renoir, Van Gogh, Volpi e Portinari.

Em seguida, por dez anos lecionou nas cadeiras de plástica, história da arte, evolução das técnicas de representação gráfica e desenho artístico na Faculdade de Ciências e Letras da FREA. Organizou no período o Congresso de História em Quadrinhos, evento que atraiu para a região célebres cartunistas do exterior.

No ano 2000, atendendo encomenda da Prefeitura de Avaré, Nilva criou o painel “Djanira, via angélica” para ornamentar o memorial da pintora Djanira da Motta e Silva, tendo também prospectado em 2010 a parte escultórica do Relógio de Sol, obra de Fausto Mazzola. E em 2013 as suas habilidosas mãos cuidaram do restauro da estatueta centenária de Nossa Senhora da Boa Morte, venerada na capela do Bairro Alto, presente da Família Imperial ao povo avareense.

Mais recentemente ela buscou, sem sucesso, doações via Lei Rouanet, para restaurar o Santuário de Nossa Senhora das Dores. A artista foi sepultada na tarde do dia 10, no Cemitério Municipal de Águas de Santa Bárbara.

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