Morre Zuza Homem de Mello, ex-presidente do júri da Fampop

Morre Zuza Homem de Mello, ex-presidente do júri da Fampop

legenda: Zuza Homem de Mello, um dos mais importantes pesquisador de música do País/Foto:Zuza Homem de Mello, um dos mais importantes pesquisador de música do País

Fonte da Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Zuza Homem de Mello se foi. O mais importante pesquisador de música do País, escritor, jornalista, contrabaixista e técnico de som, estava com 87 anos e morreu neste domingo (4)enquanto dormia em seu apartamento, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. A causa da morte revelada pela família foi infarto agudo do miocárdio. Antes de se deitar na noite de sábado, ele brindou à vida e aos projetos com a mulher Ercília e foi dormir feliz.

Em Avaré, Zuza Homem de Mello foi o primeiro presidente do júri da Feira Avareense de Música Popular (FAMPOP), em 1983, e depois seguiu presidindo o júri por longos anos na história do festival. O músico avareense Juca Novaes fez uma declaração em rede social sobre a perda do amigo. “Perdi um amigo de quase 40 anos. As portas que ele me abriu foram muitas. As lições que com ele aprendi ficarão por toda a vida. Foram tantos projetos, conversas, conselhos, descobertas, lições, que poderia escrever um livro só com estórias de nossa parceria. Nem vou falar da importância fundamental dele para a música e a cultura do Brasil, desde o final dos anos 50. Será necessário um distanciamento dessa perda para que o seu valor seja suficientemente reconhecido. Nesse momento, quero apenas lembrar do querido amigo, que conheci na rádio Jovem Pan em 1983 (com o convite para jurado da 1ª Fampop, levado por seu saudoso sobrinho Gugu), e com quem conversei pela última vez há três dias, ele feliz por terminado de escrever a biografia de João Gilberto, e cheio de muitos planos e projetos. Levei um susto ao saber de sua partida, hoje de manhã, contada pela Vera (esposa de Juca). Por um instante passou pela minha mente: “como assim, o Zuza morrer ?”- como se ele fosse imortal. Pensando bem, ele não morreu nem morrerá, pois nossa convivência, nossas conversas, seus livros e suas lições sempre ficarão comigo. Obrigado por tudo, Zuza ! Você foi um dos meus maiores mestres! Meu abraço forte e solidário à minha querida amiga Ercilia Lobo, aos filhos e netos bem como a toda família Homem de Mello, na figura do amigo Luiz Ignacio”.

Zuza havia finalizado na última terça-feira (29) uma biografia sobre João Gilberto, um projeto que o emocionava só de contar. Já havia feito um perfil sobre o violonista baiano, mas decidiu refazer os escritos, ir mais fundo na pesquisa, entrevistar mais pessoas e expandir a história. Ao falar sobre suas audições do álbum Amoroso, que João lançou em 1977, dizia que não conseguia ouvi-lo sem ir às lágrimas. E só de contar, chorava mais uma vez.

A música não apenas definiu seus mais de 60 anos seguintes como também foi definida por ele. Zuza fazia audições em casa, ao lado da mulher Ercília, todas as noites. Sentava-se na poltrona, escolhia um LP e ficavam ali, degustando arranjos e gravações de Charlie Parker, Miles Davis e Duke Ellington, seu grande ídolo. Dos mais atuantes mestres no ensino musical, Zuza tinha uma frase que levava para a vida: “Ensinar as pessoas a aprender a ouvir.” Para ele, ouvir bem uma música, com tudo o que ela tinha a oferecer, era um ato que poderia salvar um dia, uma história, uma vida.

Sua temporada em Nova York nos anos 50 o havia colocado no lugar certo e no tempo ideal. Duke Ellington, Thelonious Monk, John Coltrane, Ella Fitzgerald, Billie Holliday, ele pode ver todos atuarem ao vivo, em clubes de Nova York. Ao voltar ao Brasil, seguiu na música, mas não mais como instrumentista tocando contrabaixo pelos bares da noite. Agora, lançava-se como técnico de som, mas com um pensamento de captar também a alma dos programas e das plateias em um momento único da TV Record, em produções como O Fino da Bossa, Jovem Guarda e Bossaudade. Dentre seus livros referencias, estão A Era dos Festivais – Uma Parábola, de 2003; Eis Aqui os Bossa Nova, de 2008; Copacabana, de 2017; e, em dois volumes, A Canção no Tempo, com Jairo Severiano.

Um filme fica como registro do quanto o respeito a Zuza era poderoso, dentro e fora do país. Concebido por Ercília Lobo, com direção de Janaína Dalri, coordenação de conteúdo do próprio Zuza e realização do Canal Curta!, o documentário Zuza Homem de Jazz, de 90 minutos, o mostra em ação e como ‘coadjuvante principal’ de uma vida de serviços à música. Busca seu passado nos Estados Unidos e encontra velhos amigos do jazz, como Bob Dorough, Gary Giddins, Steve Ross, Eric Comstock, Wynton Marsalis e Maria Schneider.

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