Há 1 ano tragédia deixou 42 mortos em acidente com ônibus em Taguaí

Há 1 ano tragédia deixou 42 mortos em acidente com ônibus em Taguaí

legenda: Série do g1 atualiza como está a investigação das causas da batida entre um ônibus que levava trabalhadores de Itaí para uma empresa têxtil

Fonte da Foto: Arte g1

No dia 25 de novembro de 2020, um acidente entre ônibus e caminhão bitrem deixou 42 mortos em Taguaí, no interior de São Paulo. A maioria das vítimas era de Itaí, uma cidade a cerca de 40 quilômetros de distância e com 27 mil habitantes.

Os passageiros do ônibus estavam a caminho do trabalho em uma empresa têxtil de Taguaí quando sofreram o acidente antes de chegarem à confecção. 42 famílias nunca mais viram os parentes voltarem para casa e nem tiveram um abraço de despedida.

Um ano depois, o g1 decidiu voltar a contar essa história através de uma série de reportagens que serão publicadas todos os dias até quinta-feira (25).

A primeira delas atualiza as investigações sobre as causas da batida, mostrando que o inquérito ainda segue na fase policial e não houve denúncia do Ministério Público.

Na série, o g1 também conta como estão as crianças que perderam os pais na tragédia e detalha o relato de um bombeiro que, em seu primeiro dia de trabalho na nova corporação, teve que ajudar a resgatar as vítimas do acidente.

Já no dia em que a tragédia completa um ano, o destaque é a história de uma sobrevivente que, no dia da batida, decidiu sentar-se em um lugar diferente do que estava acostumada no ônibus. Para ela, foram sequelas por dentro e por fora.

O dia 25 de novembro virou feriado municipal em Itaí. A cidade vai inaugurar nesta semana um memorial para homenagear as vítimas do acidente, que é o maior nas rodovias estaduais de São Paulo dos últimos 22 anos.

ACIDENTE - A batida entre o ônibus e o caminhão aconteceu às 6h35 no quilômetro 172 da Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho. Com o impacto, o caminhão bitrem, que levava uma carga de esterco, invadiu uma propriedade rural, e várias vítimas foram arremessadas do ônibus e ficaram amontoadas na pista.

Ao todo, 37 mortes foram confirmadas no local do acidente e os feridos foram encaminhados para três hospitais em Taguaí, Fartura e Taquarituba (SP).

De 15 sobreviventes socorridos após a batida, quatro morreram antes de dar entrada nos serviços de saúde. A 42ª vítima morreu no dia 29 de novembro em um hospital de Avaré.

O ônibus transportava, além do motorista que sobreviveu, 52 funcionários de uma empresa têxtil que fica em Taguaí. O veículo pegou passageiros em Itaí e Taquarituba, quando bateu a cerca de cinco quilômetros do destino final.

Já no caminhão havia dois motoristas, e o homem que dirigia o veículo morreu na batida. Ele não tinha habilitação para dirigir caminhões e, por isso, havia contratado um ajudante, que sobreviveu ao acidente.

Depois da batida, o Governo de São Paulo montou uma força-tarefa para identificar e liberar os corpos das vítimas, que foram levados para o Instituto Médico Legal (IML) de Avaré.

A força-tarefa das polícias Técnico-Científica e Civil identificou e liberou os corpos dos primeiros 41 mortos na madrugada do dia 26 de novembro e um caminhão frigorífico precisou ser usado para armazenar os corpos à espera do exame necroscópico.

Os corpos começaram a ser velados na noite do dia 25 de novembro no ginásio de esportes de Itaí, sendo de oito em oito por vez. Já os enterros tiveram início na madrugada do dia 26 de novembro e aconteceram durante toda a manhã.

RESPONSABILIDADES - O passageiro do bitrem que sobreviveu ao acidente afirmou que o ônibus tentou ultrapassar outro caminhão e invadiu a contramão em um trecho de faixa contínua. Conforme o relato de um sobrevivente, a maioria dos passageiros estava sem cinto de segurança e dormia na hora da batida.

Já o motorista do ônibus disse, para a polícia e entrevistas, que não tentou ultrapassar outro veículo no trecho onde era proibido e que houve uma falha no freio do ônibus. O homem alegou que, por isso, teve que jogar o ônibus para o lado para não colidir com o veículo que estava à frente.

No dia 30 de novembro, o acidente foi recriado pela perícia através de um equipamento de tecnologia 3D. A equipe foi ao local da batida com um laser escâner, que digitalizou a área.

Em fevereiro de 2021, o motorista do ônibus foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. A Polícia Civil chegou a essa conclusão depois de receber um laudo, que aponta que não houve falha nos freios.

A polícia também indiciou a dona da empresa de ônibus Star Turismo por causa das más condições do veículo e exercício irregular da profissão, já que a empresa não tem licença para o transporte de passageiros.

Os donos das três fábricas onde os passageiros trabalhavam, e para onde seguiam quando houve o acidente, também foram indiciados porque eram responsáveis pela contratação do ônibus.

Apesar dos indiciamentos, o inquérito relatado à Justiça em fevereiro voltou ao distrito policial a pedido do Ministério Público, e a Promotoria aguarda a conclusão das diligências para oferecer as medidas judiciais pertinentes.

Além do inquérito da Polícia Civil, o Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu uma investigação contra as empresas envolvidas no acidente. Quase um ano depois da batida, o órgão fechou um acordo com as três empresas envolvidas, que se comprometeram a indenizar em R$ 39 mil as famílias de 40 trabalhadores.

Apesar disso, o termo ainda garante que os familiares entrem com reclamação trabalhista para discutir judicialmente a possibilidade de valores maiores para reparação. O g1 não teve conhecimento de nenhuma família que aceitou o acordo.

CRÉDITOS

Reportagem: Júlia Nunes e Rafaela Zem

Edição de texto: Paola Patriarca

Produção: Júlia Nunes, Rafaela Zem, Douglas Belan, Francine Galdino e Mayla Rodrigues

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